quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Entrevista com Lê Almeida (ORUÃ - RJ)


ORUÃ no Mimpi Film Fest.
Como vocês sabem amamos música feita na tóra, nos quartinhos, em jams ao vivo, gravadas por pessoas de verdade que fazem da música sua transcendência: como autores-produtores de suas próprias obras. Esses registros emanam assinaturas texturais, sentimentais e temporais que só a criatividade de um Ulysses liberto pode transfigurar: frequências despojadas de classificação. Oruã tem um pouco e um muito disso tudo. Para começar janeiro com cracolagem apresentamos uma entrevista feita pelo nosso repórter extra-sensorial Magdiel Araújo com Lê Almeida e essa moçada do Rio de Janeiro aqui para o Recife Lo-Fi. Prepare o chá de fita e aproveite a viagem.       

Zeca Viana



Créditos: Igor Freitas Lima


Entrevista por Magdiel Araújo.

Introduzindo o leitor a essa vibe, o que é e como surgiu o Oruã?
Dentre uma fortssima onda negra de maus e dúvidos pressagios eu reuni 3 amigos de ondas diferentes e que nunca haviam tocado juntos, Joãozin, Renatin e Dani. No primeiro encontro já nós gerou muitas gravações que fui usando pra montar o que virou nosso primeiro disco "Sem Bênção / Sem Crença". Durante as nossas gravações pra esse disco fomos fazendo muitas coisas com participações de amigos que frequentavam o Escritório e eram bem chegados. O Renatin passou a ficar sem tempo e fomos tocando com o Dani apenas até entrar o Phill.

Como é a recepção do público?
É doida, antes de lançarmos nosso disco tocamos muito pelo Rio e toda vez que alguém perguntava se tinha pra ouvir na internet eu dizia que não, só no show seguinte pra ouvir de novo. Isso foi novo nas minhas andanças musicais. Hoje no Rio a gente leva umas pessoas pros nossos shows que vem de todos os lados, das turmas do kraut experimental até as turmas do skate (salve geral!) passando pela turma da antiga que andou um tempo atrás de um som pesado, mas que fizesse bater a cabeça.

Como é concebida a musica do ORUÃ?
No disco tem umas que fiz sozin a base e depois finalizei com os caras, mas a prática mais habitual nossa é de fazer muitos sessões de improviso gravando tudo na fita e depois pegar algo de lá, no disco que estamos gravando agora eu to trabalhando melhor isso pra poder refazer partes boas, já no "Sem Bênção" a gente não refez nada, as partes de impro boa eu já montava a partir do momento que rolava, "Anátema" é muito isso. 


Quais são as influências do ORUÃ? Alguma indicação do que vocês ouvem ultimamente?
Na leitura Jorge Amado, Gabriel Garcia Marquez e Murilo Rubião. No som Luiz Gonzaga, Can, Stereolab e Fela Kuti

Como vocês relacionam a música com as artes visuais?
De modo espontâneo, a gente ouve som o tempo todo no Escritório e tem livros e revistas espalhado por todo canto.

Como surgiu a Cracolagem?
Isso foi um nome pra denominar meu estilo de colagem, que tem a ver com uma colagem largada. Tempos depois montei um coletivo mesmo de colagem que se chama Tanto Coletivo junto com a Lud, João e Luisa, amigos bem ligados a colagem. Agora em 2018 vamos abrir o coletivo entre mais alguns muitos amigos chegados da colagem

Que outros projetos vocês possuem?
Eu toco como Lê Almeida e também no Cosmos Amantes, Joãozin toca guitarra no Carpete Florido e baixo no conjunto Lê, Dani toca no MOS e trabalha na Audio Rebel e Phill trabalha no Aparelho e contribui numas gravações com Giraknob. Nas gravações e shows participam alguns amigos como a Laura, a Dani e o Joab. Todos também participam sempre nos Ciclos de Improviso Livre do Escritório. Além disso também possuímos duas extensões do Oruã que se chamam Oruana e Oruara




Como vocês enxergam essa relação entre diferentes tipos de arte e mídia?
O que te faz viajar e te jogar pra fora dessa realidade fria, cruel e reacionaria dos nossos tempos é a arte mais profunda, mesmo que violenta e pesada e até prencipalmente pesada

Como é a relação de vocês, e a visão sobre a produção lo-fi e a música independente no geral?
Esse primeiro disco do Oruã foi a minha viagem mais intensa nos parametros das gravações lo-fi, sempre fui um enorme apreciador do som de fita, da textura envelecida e charmosa. Faz alguns anos que venho praticado gravando alguns disco numa mesa tascam 4-track e fazendo dezenas de anotações, não faço testes, o que seria teste esta nos discos, essa tem sido meu caminhar porém também tenho estudado flertes com o hi-fi gravando como Lê Almeida

Acho que ainda entraremos em uma febre de despreciosismo de parte de bandas pequenas sobre suas gravações, pra mim o maior fator pro som que faço com a minha família ser único é a preservação dos momentos lindos, que são sempre gravados no Escritório e em sua maioria em fita. 

Quais são os planos para o futuro?
Cruzar muitas cidades pelo Brasil de carro em 2018 pra tocar, começando pelo Nordeste em março, alias vamos até Salvador, Feira de Santana e Itacaré, queremos continuar, Recife inclusive. Estamos atrás de pessoas que possam nós ajudar em mais datas. Nosso primeiro disco "Sem Bênção / Sem Crença" sai em LP duplo na California por um selo chamado IFB Records e chega por aqui no Brasil no começo do ano. Vamos lançar um video produzido nos moldes MTV 80/90 pra faixa de mesmo nome do disco e também um split em cassete com a Goldenloki de SP que vai ter show de lançamento em São Paulo inclusive no fim de janeiro. No momento estamos gravando um disco novo, ainda sem nome.


Créditos: Bigú

Alguma dica para quem tá começando ou deseja começar?
Pense no som mais do que qualquer coisa, ignore amigos ou chegados que não te incentivam, valorize cada pessoa que a cada show ou por mensagem / email demonstrarem afinidade com o seu som. Grave sempre, mesmo quando seu senso critico disser que não.


Por último, mas não menos importante, qual é aquele lanchinho massa que vocês gostam de comer quando tá todo mundo junto?

O clássico frango a milanesa do Frango Diplomata (salve Valdir!)

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